Não era costume, mas o universo portista tem comportado apelos à demissão do presidente e de alguns administradores com uma regularidade admirável. Falta escolher um nome para o movimento: democratização ou benfiquização?
Benfiquização, sem dúvida alguma.
Mas também cobardia já que aqueles que têm apelado à demissão são os mesmos que passaram a última década a contestar mas nunca tiveram coragem para se candidatar a eleições por saberem que, em situações normais, não têm hipóteses de vencer o melhor presidente de todos os tempos do futebol português.
(O texto debaixo, escrito por Fernando Santos, já tem cerca de quatro anos mas se mudarmos as datas vemos que continua actual)
ABUTRES
Pinto da Costa, obviamente, não é eterno. Não tem sequer amarras ao cumprimento do seu mandato previsto até 2007, a não ser as que lhe são ditadas pela consciência. Daí a abrir-se o capítulo da sua sucessão vai a distância da especulação e do oportunismo.
Pinto da Costa foi reeleito presidente do FC Porto há meia dúzia de meses para um novo mandato cuja duração vai até 2007. Deu-se, aliás, o caso de ninguém, rigorosamente ninguém, ter resolvido marcar posição e apresentar-se ao sufrágio democrático dos sócios a 22 de Maio passado. Estes factos indesmentíveis tornam curioso assistir-se ao modo como há quem assobie para o lado, tentando branquear a legitimidade presidencial de Pinto da Costa acenando com o cenário da sucessão e de putativos candidatos a ela.
O envolvimento do nome de Pinto da Costa no âmbito da operação "Apito Dourado" - longe, muito longe, de processualmente estar acusado e muito menos condenado em Tribunal - bastou para que já haja quem lhe antecipe o "funeral" e avance com nomes para ocupar a sua cadeira na Direcção portista, como ontem se pôde ler quer no semanário "Expresso" quer na revista Dez do "Record" - nomes depois matraqueados durante todo o dia pela preguicite aguda de quem dirige e faz os noticiários das televisões. A falta de rigor, a sustentação em "fontes anónimas" e concomitantemente a inexistência de uma só declaração de um dos nomes avançados como presidenciáveis seriam motivos suficientes para rir, rir a bandeiras despregadas, não fosse o caso de a falta de rigor e mau gosto não levar à suspeita de que há quem esteja disponível para o típico esquema usado pelos abutres...
Não se conhece uma única declaração de Pinto da Costa, mesmo depois de ouvido no Tribunal de Gondomar, a admitir o cenário de demissão de funções, mais próximo ou mais longínquo. O seu silêncio voluntário desde fez ontem uma semana, dia em que apresentou a autobiografia "Largos dias têm cem anos", tem aliás sido óptima para baralhar alguns raciocínios oportunistas e permitir que outros, filhos da hipocrisia, se revelem em todo o seu esplendor - para já limitando-se a ficar em bicos-de-pés e contentes com uma certa manobra (des)informativa que lhes alimenta o ego.
Pinto da Costa, obviamente, não é eterno. Não tem sequer amarras ao cumprimento do seu mandato previsto até 2007, a não ser as que lhe são ditadas pela consciência. Daí a abrir-se o capítulo da sua sucessão vai a distância da especulação e do oportunismo. Sob pena de um dia destes se colocarem cenários para a sucessão de um sujeito em 2014...
Há que equacionar também, claro, a FC Porto, Futebol, SAD. Mas, pelos vistos, retirando um quadro especulativo de OPA não é expectável, os pressupostos da minha opinião sobre o FC Porto-clube mantêm-se. Basta que o mais preguiçoso dos congeminadores conheça a composição, que é pública, do respectivo capital social.
Sem comentários:
Enviar um comentário