Triste fundamentalismo

Época após época, jornada após jornada, quando a equipa deles não consegue chegar ao primeiro lugar, alguns fundamentalistas, travestidos de jornalistas, útilizam o espaço que têm nos jornais e televisões para mostrarem o quanto odeiam o FC Porto.

Como disse um dia Pinto da Costa, «O desejo deles é que o FC Porto desça de divisão».

Mas parece que andam com azar porque, no lugar da descida tão desejada, vão sendo obrigados a engolir os títulos que o FC Porto vence todas as épocas.

E por isso inventam casos onde eles não existem. Sendo que os jogadores emprestados pelo FC Porto têm servido para esconder muita coisa, até a falta de qualidade dos dirigentes dos dois clubes da segunda circular.

Antigamente existia um acordo, entre o FC Porto e os outros clubes a quem os jogadores éram emprestados, que proibia a utilização nos jogos contra o nosso clube. Penso que éra um acordo justo porque, recebendo um salário que em alguns casos éra pago na totalidade pelo FC Porto, não seria normal que depois nos defrontassem e nos tentassem vencer.

O problema é que os fundamentalistas não gostavam do acordo porque diziam que assim estavamos a roubar os melhores jogadores às equipas adversárias. Que por acaso até éram nossos. E de tanto protestarem, o FC Porto foi obrigado a mudar o que estava correcto e começou a autorizar que os jogadores defrontassem o patrão deles, que é como quem diz, o nosso clube.

Mas foi sol de pouca dura e as criticas depressa voltaram. Normal. Os fundamentalistas vivem da critica ao FC Porto e sem o nosso clube para criticar tinham de ir trabalhar para as obras. O que só lhes fazia bem porque assim ganhavam o dinheiro honestamente, diga-se de passagem.

Umas vezes porque os jogadores corriam pouco quando jogavam contra nós, outras porque corriam demais, outras porque...sei lá porquê. Nem eles sabiam. Embora continuassem a criar casos atrás de casos.

Uma perdida de bola dava um caso, uma falta no meio campo dava outro caso, um pénalti falhado, mais um caso, uma má defesa, novo caso...enfim, os jogadores emprestados pelo FC Porto nunca podem errar contra nós. Até é aconselhável que errem contra os clubes dos fundamentalistas ou contra os outros clubes que ninguém se chateia mas contra nós estão proibidos. Não podem ser humanos e ponto final.

Já os jogadores do Benfica e Sporting podem errar à vontade em todos os jogos, mesmo quando jogam e perdem contra o FC Porto, porque a culpa nunca é deles. Pode ser do azar, dos árbitros, do tempo, dos árbitros, do Guaraná, dos árbitros...mas nunca deles. E com os jogadores emprestados nem se fala porque é sempre tudo limpinho e transparente mesmo quando a gente vê que não é bem assim.

E a partir de ontem existe um novo caso: o do minuto 58, altura em que Carlos Cardoso, treinador do Setúbal, mandou Bruno Gama e Leandro Lima tomar banho mais cedo. E tudo porque, três minutos depois, o FC Porto inaugurava o marcador.

Óra bem, o que podia acontecer caso o Setúbal vencesse o encontro ou mesmo empatasse? O mais certo éra os fundamentalistas festejaram num qualquer hótel de Lisboa e baterem palmas ao treinador do Setúbal por ter conseguido travar o inimigo público. Sem o presidente do Benfica, claro, porque com 24 anos de filiação portista, Luís Filipe Vieira está mais habituado a festejar as vitória do FC Porto.

Mas o FC Porto venceu. E por isso nasceu o caso do minuto 58.

Segundo os fundamentalistas, o treinador do Setúbal errou ao tirar do jogo os dois melhores jogadores da equipa. Que por acaso até estavam emprestados pelo FC Porto. E é aqui que a porca torce o rabo porque, ao contrário do que aconteceu antes, desta vez as criticas vão direitinhas para Carlos Cardoso, treinador do Setúbal. Dizem que errou propositadamente para ajudar o FC Porto.

Devem ter uma vida triste estes fundamentalistas da segunda circular.

Carlos Cardoso é um adepto do Setúbal que está sempre pronto para ajudar o clube mas não tem um grande palmarés como treinador de futebol. Não é um José Mourinho ou um Jesualdo Ferreira. Ajuda por amor à camisola como ele diz e isso chega-lhe para ser feliz. Mas, até pelo amor que tem ao Setúbal, merecia ser respeitado por todos, principalmente por quem tem o dever de ser isento quando escreve nos jornais e fala na televisão.

Errou ao tirar os dois melhores jogadores da equipa? Acredito que sim. Mas ao substituir dois atacantes por dois jogadores de caracteristicas defensivas, apenas tentou fazer o que todos fazem, defender o empate em casa do FC Porto.

«O F. C. Porto tem outra argumentação e fizemos o que estava ao nosso alcance enquanto durou a nossa resistência».

O Setúbal perdeu o jogo como muitos outros já perderam no Dragão. O Benfica e o Sporting também estão fartos de lá perder e mesmo em Lisboa têm perdido mais pontos do que ganham. E ninguém estranha. O FC Porto é superior a todos os outros, nos últimos anos tem dominado o futebol português, é Tri-Campeão nacional e prepara-se para vencer o segundo Tetra da história do clube. Quer dizer, em alguns jogos há quem estranhe mas quando as pessoas estão carregadas de clubite aguda não há nada a fazer. Até porque eles são assim: tristes e fundamentalistas.