Seja bem-vindo. Hoje é

06/01/07

Porque hoje é sábado...

Jesualdo Ferreira deve dar a titularidade a Vítor Baía frente ao Atlético em jogo a contar para a quarta eliminatória da Taça de Oeiras. Acto que merece ser aplaudido se o jogador mais experiente do plantel, e também aquele que mais títulos conquistou não só no FC Porto ou em Portugal mas também em todo o Mundo, continue a merecer a confiança do treinador nos outros jogos da taça caso o FC Porto fique apurado como todos esperamos. Porque caso isso não aconteça, Vítor Baía não precisava deste "prémio" para nada. Até porque terá à sua frente a pior dupla de centrais do clube e isso não lhe deve dar muita confiança. Ainda por cima, em caso de derrota ou de um simples remate em que a bola entra na baliza, os aziáticos anti-Baía que costumam dar o cú e dois centimos por cada golo que ele sofre, vão fazer-se ouvir durante toda a semana.

Mas como hoje é sábado, vou esquecer o que de mau pode acontecer amanhã, aproveitar este regresso do melhor guarda-redes português de sempre, e recuar treze anos no tempo. Para lembrar uma entrevista que o jovem Vítor Baía deu à revista Dragões em que comentou a entrada do novo treinador, o brasileiro Carlos Alberto Silva, e o facto da equipa estar a travessar um momento menos mau depois de um começo de campeonato algo complicado.

Estavamos em janeiro de 1994, e os portistas que se deslocavam ao Estádio das Antas apercebiam-se do começo das obras para a nova sede, o FC Porto empatava no Bessa em dia de chuva intensa e com mais um roubo do árbitro Jorge Coroado que expulsou três dragões, Zé Carlos, Rui Jorge e Paulinho Santos. Só quando o jogo já estava decidido é que resolveu mandar tomar banho mais cedo o boavisteiro Tavares, aos 90 minutos.

Mas para compensar, Drulovic acabava de assinar pelo FC Porto para, como ele disse na altura, realizar "o sonho de chegar a um grande clube europeu", enquanto os nosso jogadores continuavam a ser reconhecidos mundialmente: Kostadinov como o oitavo melhor jogador da Europa, e Vítor Baía, o segundo melhor guarda-redes do mundo, acabava de receber o troféu "luvas de Prata". Reparem como muito do que ele diz nesta entrevista continua bastante actual:

Vítor Baía, mãos de ouro.

Vítor Baía é mais do que o segundo melhor guarda-redes do mundo. É também um "gentleman" do futebol e da vida. Com palavras calmas, medidas e correctas, abre o seu pensamento, em discurso escorreito, para dizer sempre o que lhe vai na alma, e na convicção do que para si faz sentido, e não se limitando a sublinhar as impressões do jornalista. Não é dificil ser cúmplice deste grande talento desportivo, desde que as linhas se cruzem, sem ruídos, e a mensagem seja entendida na integridade, dispensando os subterfúgios e os equívocos.
O títular da baliza portista respeita, mas exige, no silêncio entre as palavras, que o mesmo parta de quem se aventura a conversar com ele. A partir daí, os dados ficam lançados, e é como estar a falar com o cidadão, que por acaso é profissional da "peladinha". Sem truques, peneiras, vaidades ou falsidades, este é um homem talhado para os grandes desafios que se colocam na vida, seja particular ou laboral, não recusando dar a mão à palmatória, sempre que preciso, mas também sabendo cobrar o que lhe é devido por parte dos outros: palavras, acções, recompensas, responsabilidades.
Vítor Baía parece ter sido sempre assim: competente, cumpridor, regular, trabalhador. Mesmo nas camadas jovens, os técnicos visionavam um futuro auspicioso para este jovem nascido em terra de boa gente, a Afurada. E de palavra em palavra, de ano em ano, o valor foi crescendo, sem nunca desprender os pés, bem assentes na terra. Não admira, portanto, que hoje seja o guarda-redes de um dos melhores clubes do mundo, o "guardião" das malhas nacionais, e um excelente exemplo para a juventude, não hesitando em dar o nome à Escola de Guarda-Redes do FC Porto.
É, todavia, um mortal com sonhos. Como qualquer homem ou mulher que assuma a sua especificidade de ser pensante. Sonhos que podem ter variantes intermináveis e desembocar em veredas infinitas. Quando se fala de um guarda-redes como Vítor Baía vem logo à colação - é inevitável? - a uma hipotética transferência para um clube estrangeiro. O próprio jogador poderá, por vezes, sentir-se pressionado a ter de encarar essa hipótese, quando, afinal, está num dos melhores clubes do mundo. É esse raciocínio que normalmente adopta Vítor Baía, não deixando de entender que não falta por aí quem gostasse de o ver longe.
Não lhe interessa o seu peso em ouro, como pretexto para subida do seu estatuto na "cotação de valores" do futebol. Preocupa-se muito mais que a "máquina" das Antas não avarie, e continue na senda dos grandes triunfos, porque é no seio dos portistas que o jogador se sente em "casa". Encara o futuro com optimismo, e mais satisfeito fica, quando as pessoas manifestam respeito pelo clube que mantém a hegemonia na modalidade em Portugal. Uma coisa é certa: este "dragão" vai ficar certamente na história secular do Porto.

Dragões - Apenas isto: foi considerado o segundo melhor guarda-redes do Mundo pela publicação francesa "L'Équipe". Comentários?

Vítor Baía - Os comentários têm que ser favoráveis. É algo de extraordinário...fui apanhado um pouco de surpresa. E digo isto porque é muito dificil ser galardoado com um prémio de prestigio quando não estive presente em nenhuma fase final de um campeonato do Mundo ou campeonato da Europa. Isso deixa-me ainda mais satisfeito, e é de enaltecer esse feito pois foi conseguido com o trabalho aqui no clube e na "poule" dos Campeões.

Dragões - Quer dizer que se tivesse disputado uma dessas provas, estaria provavelmente no primeiro lugar? É um sinal para o passo seguinte?

Vítor Baía - Nem é bem isso, porque acabei por estar até numa fase de apuramento para o Mundial, mas o número um foi campeão da Europa, o que é significativo. Se não o tivesse sido também dificilmente estaria na posição que ocupa. Julgo que esse é o tipo de critério que eles têm utilizado. Por outro lado, sou jovem ainda, posso ambicionar a mais conquistas, e mesmo este galardão vai certamente marcar a minha carreira e assumir uma grande importância para o resto dela, tendo que me influenciar quanto ao meu futuro.

Dragões - Ficou surpreendido, no bom sentido?

Vítor Baía - Fiqui, não estava nada à espera. Sei do meu valor, das minhas potencialidades, como o sei também relativamente aos outros nomes da lista, e poderia imaginar que estaria colocado entre os melhores. Todavia não pensava ser distinguido desta maneira e com uma pontuação tão elevada e à frente de grandes nomes do futebol europeu. Não se trata da ideia de que "sou o melhor", mas devemos reconhecer o nosso trabalho, e no meu íntimo sei até onde poderei chegar. Qual é o jogador que não sonha, em início de carreira, em vir a ser o melhor? Eu não fujo à regra. E da forma que as coisas me têm corrido bem, leva-me a pensar que posso ir longe.

Dragões - Noutra perspectiva, e atendendo à época, acabou igualmente por ser uma prenda de Natal para o clube e associados, ou não?

Vítor Baía - Foi mais do que isso: foi uma prenda para todos nós. E as felicitações têm sido muito grandes por parte de toda a gente. Mas sei também que a partir de agora a responsabilidade é maior e que tenho de continuar nesta linha para não defraudar as expectativas, as pessoas e o clube, especialmente estes últimos que têm apostado em mim e concedido meritórias ovações.

Dragões - Conhece exactamente os critérios que levam a estas classificações?

Vítor Baía - Não faço a minima ideia. Mas julgo que assenta na necessidade de terem que estar muito bem informados e atentos ao desenrolar de um ano desportivo. De facto, e pela minha parte, só tenho que estar feliz com o meu trabalho e por merecer a distinção de um orgão de comunicação de prestigio internacional.

Dragões - O que pensa do primeiro classificado, Schmeichel? Conhece-o bem?

Vítor Baía - Conheço-o fundamentalmente do campeonato da Europa e de o ver nos jogos recentes do campeonato inglês. Foi só aí que tive a oportunidade de o observar e penso que ganhou com mérito.

A tranquilidade mora no F.C.P.

Dragões - O Vítor Baía sonha com o futebol estrangeiro?

Vítor Baía - Iria mentir se dissesse que não. Pelo menos experimentar, mas experimentar sem correr grandes riscos e não sair só por sair. Teria que ser para algo que me desse garantias de que iria continuar a lutar por títulos e que ia continuar no top do futebol europeu.

Dragões - Admira algum figurino de futebol em especial?

Vítor Baía - O futebol latino, claro. É o que mais se adapta à nossa maneira de jogar e de ser. Mas, naturalmente, se tivesse que sair para um futebol diferente teria que me adaptar, como é o futebol inglês ou alemão, que é mais de força e contacto.

Dragões - Curiosamente a maioria dos seus colegas de profissão pensa de imediato no futebol espanhol ou italiano, não havendo tradição de portugueses a "saltarem" para a Alemanha ou Inglaterra?

Vítor Baía - É verdade, mas alguma vez terá que acontecer. E se ainda não aconteceu é porque talvez as caracteristicas dos jogadores portugueses, na maneira de ver das pessoas, não sejam as mais indicadas para aquele tipo de futebol. Mas nós também temos uma qualidade muito grande, que é saber adaptar-nos a todo o tipo de futebol e circunstâncias. Por isso é que não temos problema quando confrontados com questões como as condições do tempo: quando se fala em chuva, no estado do terreno, em muita lama, tira-se a ideia de que o jogador português não consegue, mas é mentira. As equipas portuguesas já demonstraram que o futebolista está apto para tudo: já jogaram em neve, lama, terra, chuva, e deram-se sempre bem.

Dragões - O dinheiro anda sempre associado ao mundo do futebol? Ganha-se muito, ganha-se pouco?

Vítor Baía - Os que jogam bem, ganham muito. Os bons ganham sempre bem, são sempre recompensados. Acho que ainda faz muita confusão às pessoas um jogador ganhar determinada verba mas, se formos analisar, Portugal deve ser o país que paga menos bem aos jogadores, e isto também deve ser considerado. Para além disso, é o país que dá menos contrapartidas aos próprios jogadores: eu não me importava de chegar ao fim do mês e descontar cinquenta por cento daquilo que ganho, se soubesse que depois de acabar a minha carreira o iria receber em reforma, como nos restantes países europeus. Aquilo que pudermos ganhar nunca é muito, porque vamos ter muito tempo sem uma actividade profissional. A não ser que, depois do futebol, iniciemos outro trabalho, o que é difícil.

Dragões - A quem compete então esse poder negocial e melhoria de condições?

Vítor Baía - Ao governo. A todas as entidades responsáveis. Não vou culpar ninguém directamente, porque se calhar todos somos culpados, até os próprios jogadores, os clubes, o sindicato. E não tem apenas a ver com este problema. A componente escolar não tem sido tratada da forma necessária: não se consegue compatibilizar os estudos e o futebol. Porquê? Porque não se consegue criar condições para que isso aconteça como noutros países, em que os jogadores, mesmo estando em competições, se não podem ir realizar os exemes ou testes, o fazem nos próprios estágios? Portanto, não admira que os futebolistas abandonem precocemente a educação escolar, visto que algo está mal na sociedade.

Clube deve ser tratado com respeito

Dragões - O que representa o F.C.P. na sua vida?

Vítor Baía - Nesta altura é grande parte do que eu sou. Tudo o que tenho e sou a ele o devo, é o meu clube desde a infância e por quem eu tenho, em termos quase umbilicais, uma profunda admiração e respeito.

Dragões - E como o situa no quadro nacional de clubes?

Vítor Baía - Penso que os números falam por si e que temos a hegemonia do futebol português, o que é muito bom. Temos estado sempre em competições europeias importantes, com destaque para duas "poules" seguidas dos Campeões, de onde o prestígio do F.C.P. tem saído intacto depois de todas as conquistas em anos brilhantes do passado recente. E aos quais se tem dado uma continuidade, embora não com a mesma grandeza, mas com a suficiente para dignificarmos bem o clube, após todos aqueles êxitos importantes.

Dragões - A propósito de hegemonia portista, ainda recentemente proferiu umas declarações para um jornal desportivo em que se notava a sua admiração por se duvidar deste poder do clube...

Vítor Baía - Tenho que ficar forçosamente admirado, pois uma equipa como a do F.C.P. não pode, de um momento para o outro, ser tratada com falta de respeito. E nós já demos provas mais do que suficientes, não só às pessoas que não estão directamente ligadas ao clube, como aos próprios sócios, que algumas vezes não nos têm compreendido e têm tomado atitudes que não são favoráveis. Nós queremos o bem do clube e lutamos pelo melhor do clube, ainda que por vezes as coisas não saiam como desejaríamos.

Dragões - Quem são os responsáveis pelos triunfos do F.C.P.?

Vítor Baía - Não se pode particularizar. Os jogadores têm uma grande dose de responsabilidade, mas o Porto funciona como uma máquina, à volta da qual tudo gira e funciona; os jogadores, os dirigentes, os roupeiros, os médicos, os enfermeiros, as senhoras da limpeza, o sapateiro, os porteiros, enfim toda a gente. Mas também é uma máquina, no sentido inverso, quando perdemos. Quando sofremos uma derrota, não se deve dizer que o culpado é o Vítor Baía, porque se quando ganhamos, ganham todos, quando perdemos, perdem todos também.

Dragões - Mas as grandes vitórias começam ainda mais atrás, com toda a dinâmica que é imprimida este universo imenso...

Vítor Baía - Não há dúvida que o clube tem tido pessoas responsáveis e à altura para solucionar todos os problemas. Claro que também tivemos duas Ligas dos Campeões que nos vieram ajudar, mas se as pessoas não soubessem administrar e gerir como aqui se faz, as coisas podiam não ser resolvidas.

Dragões - Sente que o clube mudou, se transformou, desde o tempo em que chegou pela primeira vez?

V.B. - A mística deste clube está muito bem vincada, nos jogadores e em todos, e desde há muitos anos. Se as coisas estão bem, então há pouco a mudar. Mudar é só quando algo está mal, e felizmente uma das características deste clube tem sido a estabilidade e a regularidade de todos os intervenientes.

4 comentários:

Anónimo disse...

E o homem vai pegar no lugar e nao o solta mais,isto nao e 1 prenda,ele vai para a baliza porque merece,e de Gaia + nada

Anónimo disse...

Hoje,FC Porto na TV? nada?
Alguem pode dizer alguma coisa.Que grande domingo era. Sofa,telecomando,cerveja,batatas fritas e o Porto na TV

Toupeira disse...

Penso que não dá em lado nenhum mas depois de comer ainda vou dar uma volta pela net para ter a certeza se não há nenhum site milagroso que dê o jogo. Caso encontre algum, meto aqui o link. ;)

MMV disse...

Há palavras para descrever o jogo de hoje?

Parece que não vou ver este ano nem o FCPorto nem o Maritimo ao Jamor...


Vergonhoso... Vergonhoso... Começamos o ano 5 estrelas... enfim

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