O futebol português no final dos anos 60

Lisboa, 28 de outubro de 1967.

Os jornalistas d´A Bola e da televisão de todos eles andam felizes da vida. A razão é apenas uma: o Benfica está a vencer e já é considerado o melhor do mundo e arredores. Quer dizer, ninguém no estrangeiro pensa isso mas se os jornalistas do nosso país garantem que é verdade só podemos acreditar neles porque a lavagem ao cérebro não nos permite pensar de maneira diferente.

O Presidente do Conselho também anda feliz. O glorioso regime já tem mais de trinta anos mas continua jovem e cheio de força. Assim como o futebol português e as suas gloriosas arbitragens. É tudo feito à medida do clube do regime. E vale tudo, golos em fora-de-jogo, pénaltis inventados que ninguém discute, entradas à margem da lei, expulsões que garantem a vitória quando o adversário é mais forte que o clube do regime...e as vitórias são sempre comentadas pela imprensa como se fossem algo só ao alcance do melhor clube do mundo e arredores.

E os poucos adversários com tomates para se revoltarem são imediatamente calados pela policia politica. Até porque existe sempre uma Carolina ou um carola qualquer para lixar a vida aos que não aceitam que o regime tenha uma paixão fundamentalista pelo Benfica.

São tempos de alegria onde se fazem as coisas sempre pelo outro lado. O clube do regime tem todos os poderes e pode ameaçar os dirigentes, treinadores e jogadores adversários à vontade que ninguém vê. O túnel da Luz é temido por todos. E os processos mais importantes são sempre arquivados. Quer dizer, às vezes aparecem uns castigos menores que apenas servem para o clube pagar uns milhares aos homens que meteu na arbitragem e na (in)justiça desportiva.

Muitos portugueses trabalham quase de borla, o país está na miséria, a saúde e a educação vão de mal a pior, muita gente vive em barracas...mas que importa? Para o Benfica há sempre muito dinheiro e por isso o clube pode distribuir pelos amigos como bem entender.

É a comunhão perfeita entre o clube e o glorioso regime. A capital do império controla tudo e todos, o resto do país não tem voto na matéria, é paisagem, e apenas serve para bater palmas. Alguns portistas são usados pela imprensa para dizerem e escreverem o que tem interesse para o regime. Foram comprados por 30 moedas de prata.